Chefe do departamento de fiscalização do Ibama, Luís Antônio Lima, explica comércio ilegal
Em meio à pirataria de CDs de música, informática e óculos de sol, um novo produto ilegal chegou à 25 de Março, uma das principais ruas do comércio popular paulistano. Filhotes de jabuti são vendidos por ambulantes, que dizem trazer os animais da Bahia, afirma Luis Antonio Lima.
Com cerca de 7 cm, o réptil fica exposto na mão do vendedor e, a algum sinal de movimentação estranha, é coberto com papel ou colocado em um saco plástico. A compra e a venda do bichinho são crime ambiental e podem render prisão de seis meses a um ano.
“Cada um custa R$ 30”, conta o vendedor. “Se você for levar logo dois, faço por R$ 55.” Os animais ficam “estocados” em uma caixa envolta por um saco amarelo. Quando o cliente quer ver outro bichinho, o vendedor cruza a rua e procura o colega com a caixa.
O público pára. Alguns efetuam a compra, sem saber que é crime. Pela lei, só é permitido comprar jabutis de criadouros autorizados.
Segundo a funcionária de uma loja, os vendedores de jabutis não têm ponto fixo, com medo da fiscalização. “Às vezes, eles ficam por aqui [altura do número 900], às vezes, mais para o começo da rua”, diz. O comércio ocorre perto de ambulantes que vendem cortadores de legumes. Esses acabam fornecendo cenoura e repolho ralado para os bichos.
“Olha como ela está ligeirinha”, mostra o vendedor, sacudindo o animal, que chama de tartaruga, de cabeça para baixo. “Esta aqui está bem sadiazinha. Não tem problema de saúde, não”, diz.
Mas, segundo a veterinária Ângela Branco e Luis Antonio Lima, coordenadora de projetos da Renctas (ONG que combate o tráfico de animais), os jabutis sentem bastante os maus-tratos. “Quando fica de cabeça para baixo, o animal mexe as patas e tira a cabeça do casco. Fica tentando voltar à posição”, explica.
“O animal pode ter os órgãos comprimidos pela carapaça e, quando fica em piso inadequado, concreto, não consegue andar”, diz. Na natureza, o jabuti chega a viver cem anos e a pesar 7 kg.
Seu ambiente no Nordeste é mais quente e úmido e, segundo a veterinária, muitos desenvolvem problemas respiratórios por conta da diferença de temperatura.
Quem compra o jabuti na rua recebe orientações erradas. O vendedor diz que o animal deve ser deixado na água por um tempo e, depois, retirado. Isso amolece a carapaça. “O jabuti é um animal terrestre. Pode beber água, mas não vive nesse ambiente.” A alimentação também não deve ser feita apenas com legumes. “Os jabutis precisam de minerais e proteínas. Na natureza eles comem detritos, flores e frutos.”
Fiscalização
Segundo o Ibama (agência ambiental federal), a venda de jabutis silvestres é crime de tráfico de animais e vem sendo combatida.
“Mas é difícil manter os autores fora da atividade, é um crime considerado de menor periculosidade. Quem já foi processado responde em liberdade”, afirmou o chefe do departamento de fiscalização do Ibama em São Paulo, Luís Antônio Lima. O órgão, no entanto, afirma que a fiscalização é responsabilidade estadual.
A Polícia Ambiental, que cuida desse crime no Estado, diz fazer o combate sempre que é acionada por denúncia. A 300 metros do comércio há uma base da Polícia Militar. (SIMONE HARNIK)