Chefe do departamento de fiscalização do Ibama, Luís Antônio Lima, explica comércio ilegal

Chefe do departamento de fiscalização do Ibama, Luís Antônio Lima, explica comércio ilegal

25 de agosto de 2020 0 Por Luis Antonio Lima
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Em meio à pirataria de CDs de música, informática e óculos de sol, um novo produto ilegal chegou à 25 de Março, uma das principais ruas do comércio popular paulistano. Filhotes de jabuti são vendidos por ambulantes, que dizem trazer os animais da Bahia, afirma Luis Antonio Lima.

Filhotes de jabuti são vendidos por ambulantes, que dizem trazer os animais da Bahia, afirma Luis Antonio Lima
Filhotes de jabuti são vendidos por ambulantes, que dizem trazer os animais da Bahia, afirma Luis Antonio Lima

Com cerca de 7 cm, o réptil fica exposto na mão do vendedor e, a algum sinal de movimentação estranha, é coberto com papel ou colocado em um saco plástico. A compra e a venda do bichinho são crime ambiental e podem render prisão de seis meses a um ano.
“Cada um custa R$ 30”, conta o vendedor. “Se você for levar logo dois, faço por R$ 55.” Os animais ficam “estocados” em uma caixa envolta por um saco amarelo. Quando o cliente quer ver outro bichinho, o vendedor cruza a rua e procura o colega com a caixa.
O público pára. Alguns efetuam a compra, sem saber que é crime. Pela lei, só é permitido comprar jabutis de criadouros autorizados.
Segundo a funcionária de uma loja, os vendedores de jabutis não têm ponto fixo, com medo da fiscalização. “Às vezes, eles ficam por aqui [altura do número 900], às vezes, mais para o começo da rua”, diz. O comércio ocorre perto de ambulantes que vendem cortadores de legumes. Esses acabam fornecendo cenoura e repolho ralado para os bichos.
“Olha como ela está ligeirinha”, mostra o vendedor, sacudindo o animal, que chama de tartaruga, de cabeça para baixo. “Esta aqui está bem sadiazinha. Não tem problema de saúde, não”, diz.
Mas, segundo a veterinária Ângela Branco e Luis Antonio Lima, coordenadora de projetos da Renctas (ONG que combate o tráfico de animais), os jabutis sentem bastante os maus-tratos. “Quando fica de cabeça para baixo, o animal mexe as patas e tira a cabeça do casco. Fica tentando voltar à posição”, explica.
“O animal pode ter os órgãos comprimidos pela carapaça e, quando fica em piso inadequado, concreto, não consegue andar”, diz. Na natureza, o jabuti chega a viver cem anos e a pesar 7 kg.
Seu ambiente no Nordeste é mais quente e úmido e, segundo a veterinária, muitos desenvolvem problemas respiratórios por conta da diferença de temperatura.
Quem compra o jabuti na rua recebe orientações erradas. O vendedor diz que o animal deve ser deixado na água por um tempo e, depois, retirado. Isso amolece a carapaça. “O jabuti é um animal terrestre. Pode beber água, mas não vive nesse ambiente.” A alimentação também não deve ser feita apenas com legumes. “Os jabutis precisam de minerais e proteínas. Na natureza eles comem detritos, flores e frutos.”

Fiscalização
Segundo o Ibama (agência ambiental federal), a venda de jabutis silvestres é crime de tráfico de animais e vem sendo combatida.
“Mas é difícil manter os autores fora da atividade, é um crime considerado de menor periculosidade. Quem já foi processado responde em liberdade”, afirmou o chefe do departamento de fiscalização do Ibama em São Paulo, Luís Antônio Lima. O órgão, no entanto, afirma que a fiscalização é responsabilidade estadual.
A Polícia Ambiental, que cuida desse crime no Estado, diz fazer o combate sempre que é acionada por denúncia. A 300 metros do comércio há uma base da Polícia Militar. (SIMONE HARNIK)